segunda-feira, outubro 24, 2005

As Revelações de Pancrácia

Naquilo que é um furo jornalístico sem precedentes, a nossa já conhecida AGÊNCIA PIPISTA descobriu uma civilização paralela na qual o Pipismo deposita agora todos os seus sonhos e ambições. A investigação fica, pois, aqui registada para quem tem falta de leitura a par de uma tremenda falta de bom gosto.

A sra. Pancrácia, desaparecida há 20 anos, foi encontrada este fim-de-semana pelas autoridades. Estava em estado de choque e terrivelmente flatulenta. «MMfmmgfhfm», disse o responsável sanitário antes de tirar a máscara. «A sra. Pancrácia está de saúde mas apresenta sinais críticos de sub-nutrição, apesar de estar gorda que nem uma vaca!» O detalhe pipista chamou de imediato a atenção do nosso enviado especial: sub-nutrição leva hífen? O silêncio das autoridades é deveras comprometedor...

E quem é a sra. Pancrácia? Pancrácia Anacleta Pevide Vacondeus é natural de Ranholas, tendo desaparecido aquando de uma excursão à capital. Os vizinhos deram de imediato pela falta de Pancrácia na hora da partida. «Quem? Pancrácia? Olhe, agora que me diz, sim, é capaz de haver uma Pancrácia lá na minha rua... Ou então um Justino.», disse um ranholense. Depois da visita da excursão ao Mosteiro dos Jerónimos, o grupo de aventesmas geriátricas da Casa de Repouso Ranholense "Legalize" foi lambuzar-se para o ex-libris de Belém, os "Pastéis de Belém", ali para os lados de Belém. Olha, é ao pé do Palácio de Belém.

Depois do repasto e de um sereno retorno a 250 km/h de regresso às suas jaulas, os responsáveis pelo lar deram pela falta de Pancrácia. «Mas qual Pancrácia, homem! Já lhe disse que não há cá Pancrácia nenhuma, nem nunca houve! Ah, a não ser na rua do sr. João... Olhe que é capaz é, sim senhor! O Justino, não é?». A partir daí nunca mais se soube da pobre idosa ranholense, até ao passado fim-de-semana.

Pancrácia apareceu na rua de Belém, a deambular em farrados, semi-nua, apresentando pelo menos um sintoma de obesidade mórbida - obesidade. E tinha um aspecto mórbido... Chiça que a gaja é gorda!! Parecia um (censurado). Babava-se incontroladamente e de quando a quando soltava um aerossol intestinal que punha os cães da freguesia num raio de 5 km a uivar em uníssono. Alguns bandos de pombos morreram, o que levou a Inspecção Sanitária a ocorrer ao local, suspeitando de gripe das aves. «Afinal era só uma velha gorda», disse em comunicado à imprensa. «Só, é maneira de dizer. Que aqueles peidos eram imorais!»

Depois de recuperar do choque, Pancrácia começou a falar. «Liberdade! Liberdade!» gritava. A sra. Pancrácia desbobinou tudo o que tinha a dizer e quando acabou colapsou, desintegrando-se, e espalhando pela rua uma estranha papa branca, que veio a saber-se mais tarde tratar-se de nata pura, pasteurizada.

E o que revelou Pancrácia? Todos nós nos abismamos ao contemplar a grandiosidade das galerias dos Pastéis de Nata. Mas tudo aquilo não é nada comparado com a realidade oculta, a ser verdade o que nos foi revelado pela sra. Pancrácia.
Vou agora modificar ao de leve o meu estilo literário para transmitir quiçá um pouco melhor a sensação que tive ao conhecer As Revelações de Pancrácia...

DE MAGNO SPLENDOR NATA

PREFÁCIO

Que, arremessando assim sem redenção possível para as profundezas do abismo a sua alma imunda, não especule o ímpio mortal, na sua ignorância desprezível, acerca do que só os deuses congeminam nas alturas da sua santidade. Pois que no dealbar do Cosmo segredos se estabeleceram que por séculos se mantiveram, longe da mancha humana, na paz do desconhecido. Foi, pois, desígnio do Criador de todas as criaturas, que outras naturezas se fizessem, para O honrar e glorificar. E foi também seu desejo que estas coisas não lhe fossem reveladas, com símbolo do seu pecado, até que o tempo chegasse. Saiba, quem lê estas palavras, que à Treva somente está condenado todo o homem.

TOMO PRIMEIRO.

Da GÉNESE do PASTELÓFAGO.

Disse-o Simplício Ptolomaico da civilização pastelécia que "outra naum ha que a supere em sciencia, e no conhecimentos das cousas dos homens e das gentes, e nas artes da guerra, e de outras virtudes que se achem e sobre as quais se possam comparar, nenhuma outra ha sido descoberta." Tais nobres qualidades se devem ao centro sobre o qual orbita esta sociedade. O pastelófago nutre a filosofia dos sábios e incute-lhes a moral necessária à regência do povo. Este deve-lhes tudo e tudo fará que obeceça aos seus nobres desígnios pois que "o que naum foi abençoado com a santidade do
pastellofagus naum merece a vida nem taum poco a piedade dos homens." O Sagrado Segredo Alquímico foi outrora investigado pelos primeiros pastelécios aos quais pelos deuses foi revelado. Foi Pastélio, aliás Pastélis, aliás Pastellonium, o grande rei dos pastelécios, quem se provou digno, por pelejar contra os impuros, de subir ao Monte para das mãos do Senhor receber o Açúcar Sagrado. O conhecimento dessas propriedades está na origem da sua superioridade e mantém-se nas castas mais altas da hierarquia pastelécia. O nome do Real Segredo não deve ser jamais pronunciado pela prole. Aos membros menos dignos das castas superiores está reservado somente poder de invocar o PI, que é a porta para a Revelação.

TOMO SEGUNDO
Da HISTÓRIA dos PASTELÉCIOS

Foi no interior do Monte da Vida que os primeiros pastelécios se vieram a fixar. Depois de ter recebido o Açúcar Divino, Pastélis ofertou em holocausto a sua filha, Canélia. Das cinzas do corpo da Virgem nasceu a Árvore do Saber, cuja casca perfumada é sagrada para os pastelécios. Pastellis, o Primeiro, é o presumível autor do LIVRO DO PI que se perdeu depois da Primeira Guerra do Pi. O seu conteúdo foi preservado por alguns magos e alquimistas que tentaram, sem sucesso, recuperá-lo. Diz-se que Pastellis é o Primeiro Pipista, ainda que disso não haja certezas. É pois possível que o Pipismo seja obra divina e não de Pastellis.

POSFÁCIO
Adverti o ímpio e o nobre, o puro e o pecador, a virgem e a meretriz, que não verdade senão a que o Pi revela. Tremei, povos, sob o braço de Pastélio.
Esta foi a revelação de Pancrácia. Pancrácia, antes de explodir, entregou-me uns papéis - em breve publicarei o Grande Livro de Pastélio, que, reza a lenda, foi escrito pelas mãos dos magos depois da Primeira Guerra do Pi. Revela parte da história do Pipismo, uma filosofia mística que ainda vou ter de investigar. Explica ainda como nasceu Pastélio e qual a sua história. Foi só lendo o Grande Livro de Pastélio que fiquei a saber, sem margem para dúvidas, o Fabuloso Destino de Pancrácia, que se não perceberam, ainda não conhecem. Mas vocês leram isto de todo?!?!

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